Principal produto do futebol nacional, a edição deste ano do Campeonato Brasileiro vem se consolidando como sucesso de bilheteria. Somando todos os jogos da competição até a 15ª rodada, o número de torcedores nos estádios superou 3 milhões, com média por jogo que ultrapassa a casa dos 20 mil pagantes. Um recorde. Principal vitrine dos times nacionais, a competição vem se notabilizando por ostentar arenas cheias, média de público crescente e fidelização das torcidas. Fatores como praças esportivas bem equipadas e confortáveis, iniciativa nas redes sociais para mobilizar os seguidores, ação de programas de sócio-torcedor e até inserções comerciais ajudam a promover a competição. Atraente, o Brasileirão fica mais palpável para ser consumido.
No histórico do Campeonato Brasileiro, a edição de 1983 foi a que alcançou a melhor marca de público (22.953 pagantes por duelo). Naquele ano, a partida final aconteceu no Maracanã e terminou com o Flamengo campeão e o Santos, vice. O público daquela partida registrou o recorde do torneio com 155.523 pessoas. Os estádios não comportam mais tanta gente assim, a média é de 45 mil lugares, exceto para estádios como Maracanã e Mineirão, que chegam a 70 mil ou mais torcedores.
Ocupando a posição intermediária na tabela de classificação, o time da Gávea é um dos responsáveis por essa alta frequência nas arenas em 2022. O time rubro-negro lidera a disputa nas arquibancadas e ostenta média de público de 54.599 pessoas. No cômputo geral, o time de Gabriel e Arrascaeta arrastou mais de 380 mil torcedores aos estádios desde o início do Estadual desta temporada.
Isso tem muito a ver com o programa de sócio-torcedor, que hibernaram durante a pandemia e agora são retomados com muita sede por parte dos torcedores. A tendência de crescimento continua em relação aos associados, obrigando os organizadores a se reinventar para atrair mais participantes. Os clubes têm no sócio-torcedor uma fonte de receita importante.
O Corinthians não faz um único jogo, seja ele qual for, sem sua arena balançar, com quase 37 mil pessoas de média. Ao lado do Flamengo, joga a conta lá para cima. O Palmeiras vem logo atrás com 33.465 fãs por partida. Já no Morumbi, a cada jogo, 28.030 são-paulinos acompanham o desempenho do São Paulo de Rogério Ceni. O estádio também é um desses de concepções antigas, com mais lugares. Fechando a lista dos clubes grandes de São Paulo, o Santos tem a 13ª melhor média do Brasileirão, com 12.924 presentes. A Vila tem capacidade de 15 mil, mas o time já faz partidas em Barueri, por exemplo, que leva mais de 20 mil ao estádio. Tenta se acertar para jogar também no Canindé.
Segundo Armênio Neto, especialista em geração de receitas no esporte, o entorno que envolve o futebol explica o momento atual de casas cheias. “O trabalho exercido pelos clubes para convocar o público é fundamental. Ao analisar os números, também temos de levar em conta o tamanho das praças esportivas. Por um lado, temos quatro times que conseguem levar mais de 30 mil pessoas por confronto. Em contrapartida, temos arenas menores, mas que estão sempre cheias. Observamos iniciativas nas redes sociais para seduzirem os fãs a irem ao estádio, onde também conseguem encontrar produtos licenciados e gerar outras fontes de renda”, diz.
A implantação e o aperfeiçoamento dos programas de sócio-torcedor é o carro-chefe desse processo. Em tempos de retorno do público com a vacinação contra a covid-19, os clubes foram atrás de vantagens e promoções para aproximar o torcedor do seu estádio. E recuperá-lo também. Departamentos inteiros de marketing se desdobram para atrair os torcedores. O clube ganha com a mensalidade. O Avanti, do Palmeiras, por exemplo, oferece até cinco planos, com preços que vão de R$ 17,99 até R$ 259,99.
No São Paulo, as vantagens vão desde a compra de ingressos, com descontos, até um tour pelo estádio. “A renda do programa é revertida para o futebol e a venda antecipada de ingressos pode dar um desconto de até 50%, visitas ao estádio e também ao CT, encontro com atletas e até eventos de integração dos sócios com promoção de torneios de tênis de mesa, poker, entre outras ações”, explica Anna Canella, analista de marketing do clube. “Para os torcedores que moram fora da capital, os valores do plano podem sair até pela metade do valor habitual em função da frequência ser bem menor.”
Cumprindo uma temporada onde é favorito nas três competições que disputa, o Palmeiras também aposta na cumplicidade de seu torcedor para fazer do Allianz Parque um caldeirão. De acordo com o clube, a média de público, que gira em torno dos 30 mil palmeirenses no ano, se manteve mesmo diante da instável situação econômica que o Brasil atravessa e da pandemia. Isso tem a ver com a fase do Palmeiras e as conquistas recentes, como o bi da Libertadores. O mesmo fenômeno se observa com o Atlético-MG.
Ainda segundo a assessoria do Palmeiras, a maioria dos jogos deste ano teve redução no tíquete médio dos ingressos para quem é sócio-torcedor se comparado com os valores praticados antes da pandemia. Atualmente, o número de filiados do programa bate na casa dos 74 mil participantes.
O Internacional segue a tendência de aposta em ações com o seu torcedor. Segundo Victor Grunberg, vice-presidente de Administração e Patrimônio do clube de Porto Alegre, a equipe gaúcha quer centrar o foco nessa iniciativa. “O Inter foi o primeiro clube do Brasil a bater a marca dos 100 mil sócios. Queremos retomar isso. No Rio Grande do Sul, a torcida é dividida praticamente na metade com o Grêmio. O programa ajuda a fidelizar o torcedor. Ganhamos uma renda fixa mensal e a gente vê na comunidade gaúcha o orgulho do torcedor de ser associado ao grande clube da cidade”, provoca.
Atento às novidades, Grunberg afirmou que existe uma preocupação em atualizar e aprimorar melhorias a fim de fazer a receita crescer com essas iniciativas. “Conversamos com clubes do Brasil, América Latina e Europa. Isso é uma prática normal. O nosso último contato, por exemplo, foi com o Athletico-PR”. A ideia é trocar experiências e descobrir caminhos. O jogo por si já é um atrativo. Mas os torcedores querem cada vez mais. Eles precisam sentir que vale a pena ser sócio-torcedor.
O aumento no quadro de sócios em mais de 45% neste ano também se deve ao investimento nessa prática. Esse é o caso do Avaí. A equipe catarinense se destaca pela presença dos inscritos no programa dos jogos na Ressacada. Na partida contra o América-MG, que marcou sua reestreia na Série A, mais de 94% do público pagante era assinante do “Sempre Avaí”. “O crescimento do programa é uma das prioridades da gestão. Desde que assumimos, conseguimos atingir a marca de 10 mil apoiadores. Além da importância financeira, a fidelização é importante para aumentar a força nos jogos dentro de casa e atingir os nossos objetivos na primeira divisão”, ressalta Júlio Heerdt, presidente do clube.
Ocupando a posição intermediária na classificação, o Avaí apresenta média de público de quase 10 mil torcedores. O empate de 2 a 2 com o Palmeiras na Ressacada registrou o seu melhor público na competição: 15.233 pagantes.
TRATOR EM CAMPO E DINHEIRO NO BOLSO
Campeonatos com casa cheia também geram receitas para os patrocinadores. Se a competição é uma vitrine, os locais dos jogos também criam potencial de exposição dos seus produtos. De acordo com Leonardo Sodré, CEO da GIROAgro, empresa do ramo de fertilizantes que patrocina o torneio nacional, todo espaço bem aproveitado pode se tornar um ativo para os envolvidos.
“Os bons públicos, o aumento da audiência no exterior e a competitividade, por exemplo, são coisas que valorizam a marca da competição e atraem mais investidores. O evento que envolve uma partida de futebol é recheado de inserções comerciais. Durante o clássico entre Corinthians e São Paulo, por exemplo, um trator da empresa entrou em campo carregando a bola oficial, chamando atenção dos torcedores no estádio e das milhares de pessoas que acompanhavam em casa pela TV”, afirma o executivo.
O programa de sócio-torcedor também ajuda a manter viva a tradição de casa cheia que os times nordestinos apresentam em Campeonatos Brasileiros. Únicos representantes da região na Série A, Ceará e Fortaleza também fazem da Arena Castelão o seu caldeirão. Há ações que trabalham a fidelização dos torcedores, de modo a fazer com que rivais se destaquem pela disputa na liderança do quadro. O Fortaleza, por exemplo, cresceu em mais de 43% desde janeiro, motivado pelas campanhas do ano passado e pela presença das disputas sul-americanas. Sérgio Portela, gerente do programa de sócios do clube, ressalta a importância do projeto para a geração de receitas ao clube.
“Os números são expressivos, mas o nosso maior desafio é manter essa base de fãs para conseguir crescer cada vez mais. Para isso, sempre buscamos oferecer experiências personalizadas aos frequentadores do Castelão, como promoções em datas esporádicas, camarotes exclusivos e fan fests antes das partidas”, diz o executivo.
No clássico cearense, válido pela 3ª rodada do Brasileirão, as exposições dos patrocinadores saíram dos gramados e migraram para as arquibancadas. Na entrada dos times em campo, a torcida do Fortaleza exibiu um mosaico de apoio ao time. Além do mascote do clube, a arte tinha o logo do galera.bet, empresa do ramo de apostas.
“Em nosso portfólio, temos diversas torcidas organizadas, que fazem festa e ressaltam a identidade do futebol brasileiro. É uma parceria benéfica para ambas as partes. Durante o torneio, temos outras iniciativas programadas para ressaltar essa paixão pelo futebol, que também fala muito sobre o que é a empresa”, conta Asher Yonaci, CEO da companhia.
RESGATE DA IMAGEM
Um dos gigantes do futebol brasileiro, o Vasco vem trabalhando firme para retornar à elite e também contar com o apoio de sua torcida. A força dessa união com seus adeptos foi sentida no duelo diante do Sport disputado no Maracanã, pela segunda divisão. Em 6 horas com as bilheterias abertas, as entradas se esgotaram. Somando as Séries A e B, o time cruzmaltino está entre as dez melhores médias de público e supera a casa dos 23 mil pagantes por jogo.
Vitor Roma, vice-presidente de marketing do Vasco, destacou a mobilização que sempre caracterizou seus torcedores. Em 2022, o Sócio Gigante, plataforma oficial do clube, arrebatou mais de 13 mil inscritos. O crescimento em relação à temporada passada foi de 27%. Nos últimos jogos, 90% dos ingressos foram vendidos para sócios-torcedores.
“Com ativações e descontos, estamos conseguindo angariar novos vascaínos para o programa, como é o caso do “Mais Alegria”. Além da redução no preço dos ingressos, buscamos oferecer experiências personalizadas para cativar e manter os assinantes. Os atletas vão participar desses programas cada vez, com dias de autógrafos e treinos abertos para os filiados. A venda de produtos do clube a preços com descontos também é um caminho já aberto pelos times.
Na partida contra o Sport, que terminou em empate sem gols, o Vasco levou ao Maracanã mais de 55 mil torcedores. A renda da partida foi de R$ 1.996.196,50. No caso do time do Rio, há ainda uma união em torno da possibilidade de subir para a Série A. Geralmente as torcidas no Brasil abraçam seus clubes na Segundona. O Cruzeiro, de Ronaldo, também presenciou esse comportamento. Há, portanto, uma série de iniciativas, da qual o programa de sócio-torcedor faz parte, para reconduzir a torcida para dentro das arenas no futebol. Os clubes estão ganhando, mas o torcedor também está.
Confira o ranking de junho:
1° lugar – Atlético-MG: 125.500
2° lugar – Corinthians: 116.000
3° lugar – Internacional: 96.400
4° lugar – Flamengo: 69.248
5° lugar – Palmeiras: 65.770
6° lugar – Cruzeiro: 60.700
7° lugar – Grêmio: 60.600
8° lugar – Vasco: 55.444
9° lugar – Ceará: 47.384
10° lugar – Fortaleza: 43.421
Fonte> noticiasaominuto.com.br